A série Infiltração investiga como influências sutis permeiam nossas escolhas. Infiltrar-se é um movimento gradual, quase imperceptível, que opera muitas vezes nas sombras até se tornar significativo. Infiltrações podem ocorrer em encanamentos e frestas, mas também nas entrelinhas de um texto, nas veias abertas de uma família, um país ou continente — sempre com a cumplicidade interna.
A palavra ‘infiltração’ foi o ponto de partida desta investigação. Pesquisei termos e expressões análogas, revelando múltiplos sentidos poéticos que serviram como base para a construção visual e conceitual da série. No processo criativo, selecionei imagens do cinema - cartazes, stills e frames -, ressignificando-as em narrativas visuais e ficcionais. Para criar a série de pinturas e o conto em Infiltração, escrevi uma matéria de jornal fictícia sobre um edifício ameaçado por uma infiltração estrutural. Esse jornal está sob a mesa em uma das pinturas da série, reforçando o diálogo entre as linguagens literária e pictórica.
A série Infiltração estabelece um jogo de metalinguagem ao ser uma série infiltrada por outra. Esse deslocamento de personagens e conceitos entre diferentes séries, um procedimento comum na literatura e no cinema, encontra nesta série sua experimentação na pintura, criando unidade em meu trabalho. Elementos das pinturas e dos contos de História Errada e Big Clash aparecem de forma sutil, quase como um comentário sussurrado no segundo plano.
Tanto na pintura quanto no texto, Infiltração combina elementos realistas e fantásticos para explorar os significados do conceito-chave. Esse processo me permitiu introduzir questões filosóficas e geopolíticas, ainda pouco abordadas nas artes visuais contemporâneas. O tema central da série é a influência externa sobre os dilemas internos de uma sociedade e a complexidade das forças globais que moldam as realidades nacionais e locais, aspectos que muitas vezes permanecem invisíveis na sociedade — tal como a própria infiltração.
A infiltração, em suas múltiplas faces, é um tema premente no século 21, pois permeia boa parte das contradições humanas nos dias atuais, precisamente aquelas que nos empurram à catástrofe da incomunicabilidade. Essas contradições — muitas vezes invisíveis, mas profundamente marcantes — ecoam a própria natureza da infiltração, que opera nas sombras até se manifestar de forma irrevogável. Será que o mundo expira com um suspiro, como nos versos de T. S. Elliot sobre os Homens Ocos?
A Arte da Infiltração

