História Errada




A vida é uma teia de encontros. A cada instante, esses encontros nos transformam e são transformados por nós, numa rede infinita de causas e efeitos. Mas o que acontece quando um encontro é tão intenso que provoca mudanças radicais em nossas vidas? Como nos guiamos diante dessas mudanças? Até que ponto nossas decisões são racionais? E quanto a intuição e a criatividade nos ajudam a encontrar caminhos rumo à estabilidade sempre fugidia?


A série de pinturas História Errada é baseada em uma narrativa ficcional sobre uma mulher que, movida ora pela intuição ora pela razão, busca descobrir o responsável por um incidente que alterou radicalmente sua vida. No entanto, as certezas costumam ser frágeis e construídas a partir de uma compreensão precária e incompleta da realidade.


A exposição retrata os personagens com um foco íntimo, destacando seus pensamentos, reflexões e estados de espírito. Da história à pintura, a fragmentação da narrativa reforça a ideia de que o diálogo entre linguagens oferece um campo rico para experimentação nas artes visuais, ao mesmo tempo que enfatiza, em linha com o tema da exposição, a noção de que temos um acesso fragmentado à realidade, assim como os personagens em Wrong Story . O que ocorre entre uma cena e outra na história em quadrinhos gráfica da exposição é deixado à imaginação do observador. As cores ousadas nas pinturas reforçam ainda mais a ideia de que os eventos que selecionamos da realidade, aquilo que escolhemos ver, também são os mais vibrantes.


Em meio a coincidências e fragmentos da realidade que parecem se encaixar como peças de um quebra-cabeça, a protagonista de História Errada descobre muito mais do que imaginava ao embarcar nessa busca. Sua jornada mostra como os encontros podem desafiar nossas certezas e nos levar a explorar novas formas de ser e de agir. Afinal, é em movimento que, certos ou errados, buscamos nos expandir ao encontro da felicidade.
























Nesta obra, as borboletas surgem como símbolos de coincidências significativas, guiando a protagonista de História Errada em sua busca por respostas após um evento inesperado que transforma sua vida. Enquanto ela confia na intuição, interpretando os sinais ao seu redor, sua amiga aposta na lógica e na investigação sistemática. O resultado? Um desfecho irônico que desafia certezas e revela as limitações de ambas as abordagens.
“E as Borboletas?” nos convida a refletir sobre o papel do acaso e dos eventos imprevisíveis — os “cisnes negros” da vida — que moldam nosso mundo de maneiras que raramente antecipamos. Criamos narrativas para dar sentido ao caos, mas, no fim, o inesperado sempre reserva surpresas: algumas reveladoras, outras irônicas, mas todas transformadoras.






A pintura pode ter muitas camadas, não apenas de tinta, mas de significado. Nesta obra, a imagem da personagem no chão, à frente da roda da bicicleta de seu marido que acabou de ser atropelado, contém inúmeras referências. A cena, inspirada em uma imagem do filme A Noite de Antonioni, também faz referência à clássica pintura O Mundo de Cristina (1948), de Andrew Wyeth. Nessas referências, assim como em História Errada , está em jogo a ideia de imobilidade versus movimento, o inexorável passar do tempo, no qual o mundo continua a se mover e mudar, mesmo quando alguém está fisicamente paralisado. A personagem em História Errada captura, neste momento difícil de sua trajetória, a essência de uma postura antifrágil – a de alguém que sabe que os eventos da vida são em grande parte imprevisíveis e que é necessário estar em movimento para lidar melhor com eles. Ela decide reparar o fato de seu marido ter sido atropelado e percebe que esse movimento fará girar a roda da vida, sendo preferível à lamentação, à tristeza ou à rigidez.

